Que
o LM RADIO, criado em 1936, como canal de língua inglesa do Rádio Clube de
Moçambique, teve enorme popularidade entre nós, isso é algo que quem nasceu na
década de 40 sabe. A chamada "estação B", que em Lourenço Marques era
ouvida em onda média, e na África do Sul em onda curta, foi referência para
muitos jovens. Desse tempo recuado ficam vozes emblemáticas, recrutadas em
várias partes do Globo, que colocaram o nome da estação de rádio e da então província
ultramarina portuguesa no mapa da radiodifusão mundial. Vozes que vieram da
África do Sul, dos Estados Unidos da América, do Canadá, da Austrália da Grã
Bretanha ou da Nova Zelândia. Vozes que se cimentaram na experiência,
capacidade e competência profissional de David Davies. Outros (e outras)
vieram, como foram os casos de John Berks, Gary Edwards, Frank Sanders, Robin
Alexander, David Gresham, Clack Mckay, Valerie Meyer, Gerry Wilmot ou Evelyn
Martin, para referir apenas estes.
1975
chegou. O LM RADIO deixou de se fazer ouvir porque o Governo considerou o
conteúdo do canal, única e exclusivamente musical, como sendo "impróprio
para consumo". Era o tempo do homem novo e homem novo, na opinião dos
cérebros pensantes daquela época, não podia ouvir os Beatles, os Rolling
Stones, Cliff Richard, Elvis Presley, Pat Boone, Dionne Warwick, Stevie Wonder,
Percy Sledge ou Frank Sinatra.
35
anos depois da nossa Independência Nacional, mais propriamente em 2010, e eis
que o LM RADIO ressuscita. Vem com outras vozes mas com conteúdo e perfil quase
semelhantes ao dos anos 40, 50, 60 ou 70. E o que em tempo recuado era
"impróprio para consumo" passou a ser aceite por uma juventude que em
nada se identifica com o que se passou no tempo da outra senhora.
Tive
a prova disse quando há dias, a pedido da professora Olga Neves, do colégio
Kitabu, fui convidado a dissertar sobre comunicação social e radiodifusão em
particular, perante uma plateia de 90
alunos da nona e décima classes daquela instituição privada de ensino. Para
minha (agradável) surpresa, fiquei a saber que, em matéria de Rádio não ouvem a
Rádio Moçambique "porque estamos cansados de política". Preferem a
SFM e o LM RADIO. Em matéria de televisão a opção principal é a STV sendo que,
para esses alunos do Kitabu, a TVM fica relegada para terceiro plano. Verdade
nua e crua de jovens estudantes do ensino secundário, de 15 anos de idade, que
pensam e sabem o que querem. Será que alguém vai atrever-se a chamar estes
jovens de "apóstolos da desgraça"?
O convite que me foi feito pelos responsáveis do Colégio Kitabu
significou valorizar o conhecimento que em meu entender não passa apenas pelo
estímulo moral ou material, traduzido
por medalhas ou diplomas. Passa também por permitir que quem sabe possa ter
espaço para transmitir os seus conhecimentos. Espaço que muitas vezes é negado.
A não transmissão de conhecimento leva ao descalabro profissional. Os erros,
sejam eles de que natureza forem, podem afastar o destinatário do nosso
caminho.
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