Quis o
destino que os mandatos dos Chefes de Estado de Moçambique e da África do Sul
terminem em 2014. Há só uma diferença. Em Moçambique o Presidente Armando
Guebuza não pode, por força da Constituição renovar o seu mandato. A menos que
a Frelimo se decidisse pela alteração da Lei Mãe do País. E isso não vai
acontecer. O próprio partido fez questão de esclarecer que “o Chefe de Estado
Moçambicano foi reiteradamente, claro, inequívoco e categórico que não se iria
recandidatar ao cargo nas próximas eleições”. O que falta saber é quem vai ser
o candidato da Frelimo às eleições de 2014.
Na África do Sul o Presidente Jacob Zuma pode
re-candidatar-se, porque a Constituição permite. Só que, perante todas as convulsões
políticas, dificilmente se pode apontar com certeza absoluta que Zuma vai ser o
indicado pelo partido no poder para continuar a exercer a sua função na chefia
do Estado sul africano.
Esta semana surgiu um outro dado indicador. O pronunciamento do
Vice Presidente Kgalema Motlanthe. Dá o dito por não dito e coloca-se como um
dos candidatos para substituir Jacob Zuma, segundo refere o jornal MAIL &
GUARDIAN. E ao que se sabe, de há muito a esta parte, apoio não lhe vai faltar.
Quanto mais não seja daqueles que continuam a não vêr com bons olhos a forma de
governação do Presidente Jacob Zuma.
Será oportuno lembrar que Kgalema Motlanthe começa a dar nas
vistas quando exerceu a função de Chefe de Estado Interino, após o ANC ter
decidido, na sequência do Congresso de 2007, retirar Thabo Mbeky do poder.
Ao nível de base, as Conferências preparatórias do próximo
Congresso do ANC começam em Outubro. A indicação do candidato do partido para
as eleições de 2014 é ponto assente.
A Liga da Juventude, fez e provavelmente vai continuar a
fazer campanha a favor Kgalema Motlanthe para Presidente do ANC e Fikile
Mbalula (actual Ministro dos Desportos) para Secretário Geral do partido, em
substituição de Gwede Mantashe. As vozes anti-Zuma no seio do Comité Executivo
Nacional (NEC) incluem nestas mudanças outros nomes de peso como por exemplo o
tesoureiro do partido Mathews Phosa, o membro do Comité Executivo Tony
Yengeni e o Ministro do Reassentamento Humano Tokyo Sexwale.
Os
apoiantes do actual Vice Presidente consideram que Kgalema Motlanthe tem capacidade para exercer o cargo
por várias razões, sendo de destacar a sua capacidade estratégica de criar um
clima de unidade entre os membros do seu partido e a sua habilidade em resolver
conflitos entre as diferentes facções existentes, porque hoje, mais do que
nunca “o quadro político actual exige unidade e não divisão”.
Se por um lado Motlanthe demonstra ter essa
capacidade de unir, há outros aspectos que podem interferir numa futura
decisão. Atente-se por exemplo nos aspectos de alegada corrupção que envolveu
figuras públicas e algumas empresas sul africanas, na aplicação dos princípios
definidos no programa “Oil-for-Food” (Petróleo por Alimentos), estabelecido
pela Organização das Nações Unidas em 1996 permitindo ao Iraque vender petróleo
para o mercado mundial em troca de comida, remédios e outros suprimentos de
valor humanitário. A intenção do programa era ajudar o governo iraquiano a
garantir as necessidades básicas dos cidadãos iraquianos comuns, prejudicados
por sanções econômicas internacionais, impostas ao governo, na esteira da
primeira Guerra do Golfo, depois que o Iraque invadiu o Kuwait em Agosto de
1990.
Independentemente
desta (aparente) pedra no sapato, os apoiantes de Kgalema Motlanthe consideram
que o actual Vice Presidente “tem mais qualidades do que defeitos”. Consideram
que ele não é um demagogo, anarquista nem populista.
Estas
ideias são consubstanciadas por Lassy Chiwayo, membro senior do ANC e antigo
Presidente da Câmara Municipal de Mbombela (Nelspruit) quando afirma que
Kgalema Motlanthe “é dos poucos membros do ANC que pode unir todas as classes e
sectores do partido”. Motlanthe, no
dizer de Lassy Chiwayo, que trabalhou com
o actual Vice-Presidente durante a turbulência política da década de 90, “foi
sempre um lider capaz de se entender com os exilados, os presos políticos, os
operários, os sindicatos”. É aquilo que muitos analistas locais designam de
“homem sereno, pensador, modesto, competente, e respeitador”.
Chiwayo acrescenta: “Kgalema Motlanthe é um
produto de esquerda que pode ser descrito como um social democrata”.
Para se saber se a sua candidatura ao cargo de
Presidente do ANC vai resultar ou não, teremos de esperar até Dezembro. E
Dezembro está aí quase ao virar da esquina.
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