Talvez muitos não saibam (os historiadores saberão
certamente) que no final do mandato de Nelson Mandela, como Chefe de Estado da
África do Sul, em 1998, a sua preferência na escolha do seu successor tenha
sido Cyril Ramaphosa, que teve um papel importante naquela época, na condução
dos destinos do Sindicato Nacional dos Mineiros. Quem assim o afirma é o
analista político Elvis Masoga. Era um sinal indicador de que a substituição
poderia ser feita, sem conotação tribal. Mandela um Xhosa e Cyril um Venda. Mas
assim não aconteceu. Quis o destino (ou o ANC) que a substituição fosse feita
por um outro Xhosa, no caso Thabo Mbeky
.
A ideia de
Nelson Mandela caiu por terra.
Já nessa
altura o antigo presidente referia que “ se a situação não fôr controlada, o
fantasma do tribalismo vai continuar a ameaçar o ANC”.
Meu dito,
meu feito.
Agora,
volvidos estes anos todos, ao aperceber-se dessa escalada gritante de actos de
tribalismo, o partido no poder pretende iniciar o combate. É assim que surge um
documento elaborado pela liderança partidária da região do Limpopo e que pode
servir de base para uma discussão mais alargada no Congresso do ANC de Dezembro
deste ano.
O documento refere numa das suas
passagens que “o partido tem de vencer a guerra contra o tribalismo”. Nele se
faz uma análise sobre as causas e consequências. E chega-se a uma conclusão que
não é novidade para ninguém: “quem pratica tribalismo atenta contra a democracia
e liberdade ”.
O documento destaca que o tribalismo é maioritariamente praticado por alguns
membros do Governo. Estes chegam a colocar nos diferentes departamentos dos
Ministérios que dirigem, pessoas da tribo do Ministro, mesmo sabendo de antemão
que são “funcionários” com qualificação académica e domínio
tecnico-profissional reconhecidamente baixo.
A questão do tribalismo, de acordo
com Bricks Mandzini, um dos responsáveis ao nivel da região do Limpopo não está
no ANC como partido político, mas sim em alguns dos seus membros. Esta situação
afecta muita gente, principalmente os mais pobres. Esses são os tais que “por
não terem um padrinho da sua tribo no Governo” dificilmente conseguirão singrar
na vida.
Será bom lembrar que este ano o executivo de
Pretória adiantou ideias sobre a necessidade de reformular os poderes
atribuidos aos Governos Provinciais, particularmente no que a gastos diz
respeito, tendo em conta irregularidades detectadas, particularmente na
Provincia do Limpopo, com o dispêndio de avultadas verbas sem qualquer
justificação plausível, e que já provocou comentários pouco abonatórios do
Ministro das Finanças, o Dr. Pravin Ghordan. E para combater estes “abusos de
poder” (alguns dos quais baseados em actos de tribalismo) alguns dos orçamentos
provinciais estão sob controlo do Governo Central.
Despesas injustificadas traduzidas em
“luvas” que se pagavam pela adjudicação duma obra a um empresário, porque, pura
e simplesmente, esse empresário era da mesma tribo do responsável provincial.
Era o apadrinhamento versus qualidade, capacidade, competência. Isto, refere o
documento, “é uma forma de enriquecimento ilícito”.
Agora a questão vai a debate
público. E até Dezembro é muito provável que haja uma estratégia para combater
o tribalismo. Vai ser mais um osso duro de roer para o ANC.
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