segunda-feira, 30 de abril de 2012

ANC … combater o tribalismo

Talvez muitos não saibam (os historiadores saberão certamente) que no final do mandato de Nelson Mandela, como Chefe de Estado da África do Sul, em 1998, a sua preferência na escolha do seu successor tenha sido Cyril Ramaphosa, que teve um papel importante naquela época, na condução dos destinos do Sindicato Nacional dos Mineiros. Quem assim o afirma é o analista político Elvis Masoga. Era um sinal indicador de que a substituição poderia ser feita, sem conotação tribal. Mandela um Xhosa e Cyril um Venda. Mas assim não aconteceu. Quis o destino (ou o ANC) que a substituição fosse feita por um outro Xhosa, no caso Thabo Mbeky
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        A ideia de Nelson Mandela caiu por terra.

        Já nessa altura o antigo presidente referia que “ se a situação não fôr controlada, o fantasma do tribalismo vai continuar a ameaçar o ANC”.
        Meu dito, meu feito.

        Agora, volvidos estes anos todos, ao aperceber-se dessa escalada gritante de actos de tribalismo, o partido no poder pretende iniciar o combate. É assim que surge um documento elaborado pela liderança partidária da região do Limpopo e que pode servir de base para uma discussão mais alargada no Congresso do ANC de Dezembro deste ano. 

O documento refere numa das suas passagens que “o partido tem de vencer a guerra contra o tribalismo”. Nele se faz uma análise sobre as causas e consequências. E chega-se a uma conclusão que não é novidade para ninguém: “quem pratica tribalismo atenta contra a democracia e liberdade ”. 

O documento destaca que o tribalismo é maioritariamente praticado por alguns membros do Governo. Estes chegam a colocar nos diferentes departamentos dos Ministérios que dirigem, pessoas da tribo do Ministro, mesmo sabendo de antemão que são “funcionários” com qualificação académica e domínio tecnico-profissional reconhecidamente baixo.

A questão do tribalismo, de acordo com Bricks Mandzini, um dos responsáveis ao nivel da região do Limpopo não está no ANC como partido político, mas sim em alguns dos seus membros. Esta situação afecta muita gente, principalmente os mais pobres. Esses são os tais que “por não terem um padrinho da sua tribo no Governo” dificilmente conseguirão singrar na vida. 

Será bom lembrar que este ano o executivo de Pretória adiantou ideias sobre a necessidade de reformular os poderes atribuidos aos Governos Provinciais, particularmente no que a gastos diz respeito, tendo em conta irregularidades detectadas, particularmente na Provincia do Limpopo, com o dispêndio de avultadas verbas sem qualquer justificação plausível, e que já provocou comentários pouco abonatórios do Ministro das Finanças, o Dr. Pravin Ghordan. E para combater estes “abusos de poder” (alguns dos quais baseados em actos de tribalismo) alguns dos orçamentos provinciais estão sob controlo do Governo Central. 

Despesas injustificadas traduzidas em “luvas” que se pagavam pela adjudicação duma obra a um empresário, porque, pura e simplesmente, esse empresário era da mesma tribo do responsável provincial. Era o apadrinhamento versus qualidade, capacidade, competência. Isto, refere o documento, “é uma forma de enriquecimento ilícito”.

Agora a questão vai a debate público. E até Dezembro é muito provável que haja uma estratégia para combater o tribalismo. Vai ser mais um osso duro de roer para o ANC.

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