Hoje
parece que perdi o rumo. Perdi o Norte, como se costuma dizer.
Nos meus tempos de juventude, algumas
destas coisas relacionadas com a mendicidade, eram acarinhadas por instituições
ligadas à acção social, de entre as quais destaco o “Zé dos Pobres”, que até
tinha direito a tempo de antena (15 minutos por semana) no então Rádio Clube de
Moçambique. Hoje o Zé dos Pobres não existe, tal como já não existem muitas
coisas mais, como por exemplo a “Caixa Escolar”.
Neste meu deambular por aquilo que se
designada de “cidade das acácias”, circulei pela baixa, na área próxima à Rua
do nosso Major Araújo, hoje Rua de Bagamoyo. Vi vários locais para prostituição,
a céu (quase) aberto, em plena luz do dia. No vão de alguns prédios situados na
zona, taipais de madeira, ou até pequenos lençóis, encobrem uma relação de
ocasião. Dizem-me que a Polícia sabe mas faz vista grossa. Onde chegamos? Para
onde vamos? O que nos leva a chegar a este ponto?
Na roda de amigos, fala-se de tudo um
pouco. Da Renamo e da Frelimo e do jogo de empurra de ambos, interessados em
perpetuar esta situação de tiro para lá, tiro para cá. E quem paga nesta
situação é o pacato cidadão.
Nas conversas que vou tendo com o meu
grupo de amigos vem à baila o Desportivo de Maputo. Tema do dia: eleições
naquela agremiação. Agora assiste-se a um vai que não vai, com alguns dos
candidatos a presidente a dizerem que sim, não e talvez, ainda não é hora ou,
preciso de me preparar melhor. E como se não bastasse um dos meus amigos
contou-me a história da verdadeira “peixeirada” que foi a última Assembleia
Geral dum clube de grande prestígio, fundado a 31 de Maio de 1931 e agora afundado
em desgraças de todo o tamanho. Coitado do meu amigo Manuel Braga que, de
quando em vez, tem de engolir alguns sapos.
E já agora que estou com a mão na massa, lá
pelas bandas do café que frequento, e que me inspira muitas vezes para estes
meus rabiscos semanais, cantou-se a “kalinka”, tema velhinho popularizado pelo
exército vermelho da antiga União Soviética e por Ivan Rebroff, numa clara
alusão à vitória das águias nos domínios de André Vilas Boas, que deixou os
citadinos amantes do futebol de São Petersburgo, a cidade que já foi Petrogrado
e Leningrado, de boca aberta. Depois desse desaire, imaginem como ficaria (se
lá estivesse) o Czar, Pedro O Grande. Ficaria pequenino certamente.
E agora desculpem-me porque não tenho
tempo para mais nada. Preciso urgentemente de me deslocar à Electricidade de
Moçambique para lhes informar que a minha geleira “pifou” por força da
eficiência no fornecimento normal de energia aos cidadãos deste País, traduzida
por cortes constantes sem aviso prévio.
Disseram-me que eles pagam pelos danos causados.
Espero bem que sim. Mas por causa das coisas, eu acho que o melhor é esperar
sentado.
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