sexta-feira, 18 de março de 2016

À DERIVA



Hoje parece que perdi o rumo. Perdi o Norte, como se costuma dizer.  

Deambulei pela cidade à procura de assunto para hoje. Não encontrei. Encontrei cada vez mais mendigos de mão estendida à procura da caridade de alguém que lhes dê alguns trocados. Os mesmos que às sextas-feiras deixam as esquinas demarcadas pelos semáforos e fazem fila à porta das lojas, à espera duma esmola.


Nos meus tempos de juventude, algumas destas coisas relacionadas com a mendicidade, eram acarinhadas por instituições ligadas à acção social, de entre as quais destaco o “Zé dos Pobres”, que até tinha direito a tempo de antena (15 minutos por semana) no então Rádio Clube de Moçambique. Hoje o Zé dos Pobres não existe, tal como já não existem muitas coisas mais, como por exemplo a “Caixa Escolar”.  



Neste meu deambular por aquilo que se designada de “cidade das acácias”, circulei pela baixa, na área próxima à Rua do nosso Major Araújo, hoje Rua de Bagamoyo. Vi vários locais para prostituição, a céu (quase) aberto, em plena luz do dia. No vão de alguns prédios situados na zona, taipais de madeira, ou até pequenos lençóis, encobrem uma relação de ocasião. Dizem-me que a Polícia sabe mas faz vista grossa. Onde chegamos? Para onde vamos? O que nos leva a chegar a este ponto?    
 

Na roda de amigos, fala-se de tudo um pouco. Da Renamo e da Frelimo e do jogo de empurra de ambos, interessados em perpetuar esta situação de tiro para lá, tiro para cá. E quem paga nesta situação é o pacato cidadão. 

 

Nas conversas que vou tendo com o meu grupo de amigos vem à baila o Desportivo de Maputo. Tema do dia: eleições naquela agremiação. Agora assiste-se a um vai que não vai, com alguns dos candidatos a presidente a dizerem que sim, não e talvez, ainda não é hora ou, preciso de me preparar melhor. E como se não bastasse um dos meus amigos contou-me a história da verdadeira “peixeirada” que foi a última Assembleia Geral dum clube de grande prestígio, fundado a 31 de Maio de 1931 e agora afundado em desgraças de todo o tamanho. Coitado do meu amigo Manuel Braga que, de quando em vez, tem de engolir alguns sapos.



E já agora que estou com a mão na massa, lá pelas bandas do café que frequento, e que me inspira muitas vezes para estes meus rabiscos semanais, cantou-se a “kalinka”, tema velhinho popularizado pelo exército vermelho da antiga União Soviética e por Ivan Rebroff, numa clara alusão à vitória das águias nos domínios de André Vilas Boas, que deixou os citadinos amantes do futebol de São Petersburgo, a cidade que já foi Petrogrado e Leningrado, de boca aberta. Depois desse desaire, imaginem como ficaria (se lá estivesse) o Czar, Pedro O Grande. Ficaria pequenino certamente.



E agora desculpem-me porque não tenho tempo para mais nada. Preciso urgentemente de me deslocar à Electricidade de Moçambique para lhes informar que a minha geleira “pifou” por força da eficiência no fornecimento normal de energia aos cidadãos deste País, traduzida por cortes constantes sem aviso prévio.

Disseram-me que eles pagam pelos danos causados. Espero bem que sim. Mas por causa das coisas, eu acho que o melhor é esperar sentado.


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