Alguns dos nossos governantes
não gostam de ouvir falar de redes sociais por considerarem esta plataforma
tecnológica como “laboratório ou fábrica de sonhos inalcançáveis”.
Quer queiram
quer não é pela via das redes sociais que ficamos a saber aquilo que os órgãos
públicos de comunicação social escondem. Foi pelas redes sociais que eu fiquei
a conhecer o depoimento dum antigo combatente da luta de libertação nacional,
que esteve presente no recente comício de apoio ao Presidente Armando Guebuza.
Quando entrevistado pela TVM afirmou que o Professor Castel Branco devia ser
expulso. O jornalista que entrevistava, por sinal o meu colega e amigo Simião
Ponguane recordou ao seu entrevistado (escuso-me de mencionar aqui o seu nome)
que, independentemente de ser de raça branca, o Professor Castelo Branco é
moçambicano, ao que o ilustre entrevistado respondeu: “não é moçambicano originário, por isso podemos expulsá-lo”.
Na sequência deste episódio e
também numa rede social apareceu este comentário: “eu, que sou filho de português com mocambicana negra, mulato e
chigondo, os meus filhos são de mulato com mulata, onde vamos viver? Será que é
isto que a Frelimo quer? Será que Guebuza precisa mesmo de bajuladores que
chegam a este ponto ?”
Como se não bastasse este exemplo, a semana passada
recebi um email duma leitora assídua do “Correio da Manhã”. Preocupada com a
questão dos “moçambicanos originários e/ou genuínos”, ela diz-me que “fui criada
numa família multicolorida. A nossa família é um verdadeiro mosaico de cores.
Minha avó era “caneca” filha de goês com uma negra. Ela casou com um “cafuso”.
Os seus filhos casaram-se com “um pouco de tudo” e assim nascemos nós. Não consigo
situar-me num Moçambique com problemas rácicos. Tenho medo, não por mim mas
pelos meus filhos, que têm primos, uns louros e de olhos azuis e verdes e
outros escurinhos de cabelo corrido e ainda outros negrinhos do estilo “guinéus”.
E eles, jovens, nunca se sentiram diferentes. Como é que de repente se vão
sentir quando forem confrontados com esta situação, sabendo de antemão que não
são originários ou genuínos? Sinto-me desolada com tudo isto”.
Recordo-me
duma discussão havida na então Assembleia Popular sobre esta questão da
nacionalidade originária ou genuína e do posicionamento dum ministro (de origem
asiática) do governo da época, que dizia mais ou menos assim: “que culpa tenho
eu de ter nascido em Moçambique?
Para fechar a
minha crónica de hoje parece-me oportuno transcrever, com a devida vénia, uma
passagem da entrevista que Sérgio Vieira concedeu ao semanário “Savana”. Ao
abordar a questão do racismo ele referiu que “quem anda à procura de genuíno ou não genuíno que leia a Constituição
da República e que não dê machadadas na pátria. Será que alguém é capaz de
mostrar quem é genuíno? Posso ir mais longe. O grosso dos moçambicanos é de
origem bantu e os bantus foram invasores. Vieram da África ocidental.”
Para Sérgio
Vieira esta declaração de moçambicano originário ou genuíno, venha de quem
vier, é uma asneira. Pode ser, adianta, que haja uma intenção oculta. É uma
machadada na moçambicanidade. Tal como Sérgio Vieira, muitos de nós nunca
mudámos de côr nem dos nossos antepassados. Muitos de nós serviram e agora não
servem. Muitos de nós éramos genuínos e agora não somos.
Segundo sei e
se diz por aí à boca cheia, “genuínos” e “não genuínos” que alguns membros da
Frelimo teimosamente decidiram introduzir no dicionário político, tem como
objectivo fazer a diferença entre nacionais negros e não negros. Esquecem-se os
mentores desta ideia absurda e macabra, que também há cidadãos negros “não
genuínos”. Pesquisem. Estou certo que vão encontrar.
Para fechar a
minha crónica de hoje parece-me oportuno transcrever, com a devida vénia, uma
passagem da entrevista que Sérgio Vieira concedeu ao semanário “Savana”. Ao
abordar a questão do racismo ele referiu que “quem anda à procura de genuíno ou não genuíno que leia a Constituição
da República e que não dê machadadas na pátria. Será que alguém é capaz de
mostrar quem é genuíno? Posso ir mais longe. O grosso dos moçambicanos é de
origem bantu e os bantus foram invasores. Vieram da África ocidental.”