O Presidente Robert Mugabe não morre de amores pelo Chefe de Estado sul africano. Isso não é novidade para ninguém. Quem acompanha a evolução dos acontecimentos políticos no Zimbabwe, apercebe-se disso. As divergências de opinião, começaram em 2007, logo após o afastamento de Thabo Mbeky como Presidente do ANC e consequentemente como Presidente da República.
Muitos, nomeadamente os governos de algumas potências europeias e dos Estados Unidos da América criticaram a chamada “diplomacia silenciosa” utilizada pelo antigo Presidente Sul Africano por considerarem que ela favorecia Robert Mugabe e deixava pouco espaço de actuação para os outros intervenientes como eram (e continuam a ser) os casos de Morgan Tsvangirai e Arthur Mutambara.
Na altura, enquanto Presidente do ANC, quando Kgalema Motlanthe exercia interinamente as funções de Chefe de Estado, Jacob Zuma afirmou bastas vezes que Robert Mugabe não estava a cumprir com o calendário adoptado pelos Chefes de Estado e de Governo da SADC, no que ao processo de eleições democráticas naquele País diz respeito.
Robert Mugabe acusou o toque. Esperou o tempo necessário para ripostar. E fê-lo recentemente, precisamente no dia em que comemorou os seus 88 anos de idade. Disse publicamente que “o governo sul africano falhou na aplicação da lei da indigenização”. Para ele “processo de indigenização” significa entre outras coisas, reforma agrária. Mugabe considera que uma reforma agrária bem sucedida é uma das formas de dar mais poder aos cidadãos de raça negra.
Só que a África do Sul considera ser necessário estudar cuidadosamente todos os aspectos relacionados com este processo, porque não pretende optar o modelo que os zimbabweanos adoptaram e cujas consequências, ao nível do sector agrícola em particular, são bem visíveis. Tão visíveis que o ano passado o Governador do Banco Central do Zimbabwe Gideon Gono insurgiu-se contra “agricultores negros que não cumprem com os objectivos definidos pelo Governo” no que ao processo de reforma agrária diz respeito, tendo inclusivamente ameaçado retirar a terra a quem não tivesse condições de produzir.
Em Bulawayo num encontro com Chefes Tradicionais o lider da ZANU-FP fez questão de sublinhar que “o nível de pobreza dos negros na África do Sul é alarmante, principalmente para um país que se diz economicamente forte e rico”.
Não deixa de ser verdade.
E Mugabe dá como exemplo o Soweto. Afirma que quem ali vive tem enormes dificuldades em melhorar o seu nível de vida. Vão continuar, diz o Chefe de Estado do Zimbabwe a não ter acesso a emprego. Mugabe considera que a situação pode mudar, se houver coragem para pôr em prática um sistema de mudanças que beneficie a maioria da população, que, especialmente nos bairros mais problemáticos, se confronta com graves problemas de saneamento do meio, habitação condigna, mais postos de saúde e escolas, entre outras coisas.
O lider da ZANU-FP ataca a Constituição sul africana ao afirmar que “a Constituição deles não dá aos negros o direito de posse e aproveitamento da terra como acontece aqui desde 1980”.
Críticas duras que não cairam bem no seio de alguns quadros do ANC e do governo sul africano, vindas de quem como Robert Mugabe continua agarrado ao poder há 32 anos e dele, segundo consta, não se pretende afastar pelos próximos tempos, tendo em vista que tudo está a ser engendrado no sentido que o seu partido, a Zanu-FP, ganhe as eleições que eventualmente podem vir a ser realizadas no Zimbabwe ainda este ano.
Na sua alocução perante Chefes Tradicionais Mugabe fez questão de clarificar que o Acordo Político de Entendimento assinado em 2008 não prevê a alteração da Constituição, mas apenas eleições em ambiente de paz e democracia.
Este pronunciamento constituiu uma resposta indirecta ao Governo sul africano, que recentemente, através da Ministra das Relações Exteriores e Cooperação, Maite Nkoana-Mashabane, veio a público dizer que “as eleições só podem têr lugar no Zimbabwe, se houver progressos no processo da revisão da Constituição”.
Neste jogo político o Chefe de Estado do Zimbabwe ameaçou retirar o Presidente Jacob Zuma da sua missão de facilitador do processo político. “Nós já lhe dissemos isso. Nós não somos forçados a aceitá-lo” – adiantou Mugabe.
Só que para isso acontecer é preciso (pelo menos teoricamente) que haja um consentimento dos Chefes de Estado e de Governo dos 15 países membros da SADC porque foi esta instituição regional que indicou Jacob Zuma como facilitador do processo político do Zimbabwe, em substituição de Thabo Mbeky.
Por tudo o que vos contei, é caso para dizer que Zuma e Mugabe continuam de costas voltadas.