Quando cheguei a Pretória, em 2006, a
África do Sul ainda era um mar de rosas. Eu pensava assim, mas com o passar dos
tempos, fui mudando de opinião. As rosas foram murchando. Jacob Zuma enfrentava
um processo de corrupção. Deixara de ser vice-presidente. E os seus apaniguados
acusavam Thabo Mbeky de ter montado a cabala. Dois anos depois, vira-se o
feitiço contra o feiticeiro. Polokwane é local para o “derrube” de Mbeky. Zuma
passa a ser o novo “comandante”.
Malema era o controverso. Dava uma no
cravo e outra na ferradura. Defendia pobres e injustiçados. Apoiava os mineiros
e os trabalhadores rurais. Andava pelos campos a botar faladura, a prometer
mundos e fundos, a falar mal dos que no Governo Mbeky esbanjavam, esquecendo-se
que ele próprio fazia as orgias que fazia, a partir da sua mansão de Sandton,
um dos mais nobres, chiques e ricos bairros da África do Sul. De mais falar do
que fazer, Julius Malema acabou por ficar sem a sua árvore das patacas.
Julius ganhou fama na política
exactamente por ser controverso. Defendeu o ANC com unhas e dentes. O ANC de Mandela,
de Mbeky e de Zuma. Depois, dissociou-se deste último. Largou o Partido. Agora despeja
todo esse ódio sobre Jacob, enquanto membro e principal mentor dum grupo
político com assento parlamentar que dá pelo nome de Lutadores pela Liberdade
Económica.
Nestes tempos conturbados duma África do
Sul que começa a ficar (quase) num beco sem saída, como resultado dos
escândalos de Zuma associados a outros factores duma ostensiva má governação,
eis que Malema, polémico como sempre, aparece publicamente a dizer que “We are worse than we were during the times of
apartheid. We are being killed by our own people. We are being oppressed by our own
government."
Estamos pior do que no tempo do apartheid. Estamos a ser
mortos pelo nosso próprio povo. Estamos a ser oprimidos pelo nosso próprio
Governo.
E esta hein? – diria o saudoso Fernando Pessa ! *
Fernando Pessa (1902 – 2002) foi o primeiro locutor da então Emissora Nacional (RDP/Antena1).
Fez a primeira transmissão directa da RTP, a partir da Feira Popular, em
Lisboa, e foi o primeiro português a ser repórter de guerra, ao serviço da BBC.
Ficou célebre a expressão “e esta,
hein?” com a qual
fechava todos os seus trabalhos de reportagem.
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