Não deixa de ser curioso o facto do irrequieto Julius Malema, suspenso por 5 anos da sua função de lider da juventude do seu partido, ter feito publicamente uma declaração bombástica, que já começou a mexer com a sociedade política sul africana. A sua frase é significativa: “só a Liga da Juventude tem poderes para afastar os seus membros. Aprendemos que numa democracia centralizada, somos culpados apenas por pensar”. Julius Malema fez esta declaração na qualidade de membro do Comité Executivo da Liga da Juventude ao nível da Provincia do Limpopo.
E o mais interessante de tudo é que esta declaração é feita num encontro alargado dos quadros da Liga da Juventude, que durante 3 dias se reuniu em Pretória, para traçar a estratégia de acção para 2012. Mais interessante ainda, o facto deste pronunciamento ter sido feito logo a seguir ao dia dia em que o Presidente Jacob Zuma se dirigia à Nação, no seu primeiro informe ao Parlamento.
Coloca-se aqui uma questão que certamente perturba o partido no poder e não só. Uma vez confirmada a sua suspensão, (decisão tomada pela Comissão Disciplinar do ANC a nível central) como perceber que ele continue a exercer funções de responsabilidade ao nível da Liga da Juventude, mesmos considerando que essa é uma função está a ser exercida a nivel provincial ?
Julius Malema vai mais longe ao afirmar que “nós não fizemos nada de errado quando nos pronunciamos sobre a lei das terras ou sobre as nacionalizaçoes”, porque a questão das nacionalizações é algo que vem consagrado na Carta da Liberdade, adoptada pelo próprio ANC em 1955. Nela se afirma, entre outros aspectos que “as riquezas da África do Sul pertencem aos sul africanos, sejam eles brancos ou negros”.
E é isto que o jovem Julius Malema pede.
Só que hoje, os cenários são outros. A economia de mercado prevalece e faz com que a África do Sul, mesmo com todos estes altos e baixos, provocados pela crise financeira internacional, seja considerada a principal potência do Continente Africano.
Alguns analistas políticos locais aplaudem o discurso de Julius Malema, mas apontam um senão ao afirmarem que por vezes, este jovem irrequieto, que é sem dúvida o ídolo da juventude sul africana, “dá alguns tiros no escuro, e por vezes no próprio pé”.
Ao pronunciamento de Malema já reagiu o Vice Presidente do ANC. Kgalema Mothlante considera que a Liga da Juventude pode tomar as decisões que entender. Só que elas não podem entrar em conflito com a a Constituição e as políticas definidas pelo partido no poder.
Na realidade a prática manda dizer que a Liga da Juventude não se comporta como um braço do ANC. Tem força própria e talvez por isso actue como partido político, como aliás acontece com a COSATU, a Central Sindical dos Trabalhadores.
Por tudo isto, e por tudo quanto está por vir, no ano do Congresso do ANC de Dezembro, onde se vai ficar a saber se Jacob Zuma renova ou não o seu mandato na condução do partido, atrevo-me a dizer que ainda muita água vai rolar debaixo das pontes. E mais: Julius Malema vai continuar a ser uma pedra no sapato de muito boa gente.
Sem comentários:
Enviar um comentário